Todescan Siciliano

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Arquitetura

quinta-feira, outubro 09, 2008

Integração de sistemas é o novo desafio da sustentabilidade

Integração de sistemas é o novo desafio da sustentabilidade


Opinião é do engenheiro escocês Michael Shaw, que também apresentou no Brasil tecnologias sustentáveis para o tratamento natural de água e esgoto

Foto: Envolverde
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Shaw é diretor do The Ecovillage Institute, um centro internacional de engenharia e design ecológico com sede na Findhorm Ecovillage, na Escócia

03/06/2008 -
Um público muito atento ouviu o engenheiro escocês Michael Shaw relatar, nesta terça-feira (02/06), que visitou há pouco a China, onde uma prefeitura pediu-lhe ajuda para transformar a cidade na “mais verde” do país; já na Escócia, onde vive, acaba de ser aprovado um grande fundo para as as cidades que estão adotando políticas sustentáveis frente aos novos tempos de aquecimento global, as chamadas “cidades de transição”; e Porto Alegre, a cidade do mundialmente famoso José Lutzenberger, citado por ele, promove uma Semana do Meio Ambiente em que é chamado para falar da sustentabilidade.

Não são fatos isolados, comentou, configuram isto sim um momento crucial no mundo, em que as mudanças climaticas e a crise energética pressionam por saídas urgentes e fazem emergir um cultura da sustentabilidade. “O pico (do uso) do petróleo está nos levando a uma cultura da sustentabilidade, a uma necessidade da sustentabilidade, na energia, na produção de comida, nos transportes, na forma como lidamos com nossos resíduos, e é importante que tudo isso seja integrado num sistema único”, afirmou.

Shaw é diretor do The Ecovillage Institute, um centro internacional de engenharia e designer ecológico com sede na Findhorm Ecovillage – a mais famosa ecovila do mundo – na Escócia, onde vive há 15 anos. ”Este é um momento de transição e o desafio é sermos propositivos, não há mais tempo para ficarmos presos a velhas fórmulas. Nos próximos 30 anos teremos de diminuir 55% a emissão de gás carbônico, hoje se emite três toneladas/ano por pessoa, principalmente na América do Norte e Estados Unidos”, destacou.

”Como fazer isso? Com cortes no uso de energia, menos uso de combustíveis fósseis, baixa produção de carbono”, respondeu. “Precisamos, então, pensar e planejar para a sustentabilidade”, acrescentou, observando que seis graus a mais na temperatura global já fariam desaparecer debaixo d'água Porto Alegre e o lugar onde ele mora.

Tratamento Natural de Água e Esgoto

A seguir, apresentou o que é a sua grande especialidade, o tratamento natural/sustentável de água e esgotos, apenas com recursos biológicos, sem nada de produtos químicos, como as plantas com raízes onde se multiplicam bactérias que retiram os poluentes da água, microorganismos diversos, pequenos peixes e brita.

Projetos assim ele já implantou nos Estados Unidos, Ìndia, China, países da Europa e numa grande fábrica de alimentos para animais em São Paulo. Tudo a um custo de investimento bem menor, com menos ou até nenhum consumo de energia, sem cheiro (!) e de manutenção mais fácil que as convencionais lagoas de decantação, onde são empregadas grandes quantidades de substâncias químicas, com alto consumo de energia e funcionamento complicado.

O investimento e o custo de manutenção variam conforme a disponibilidade de terra e o tipo de poluição da água. Existem então dois sistemas básicos de tratamento sustentável, explicou, um para regiões com bastante terra disponível e outro para áreas menores, como dentro de cidades, onde os sistemas precisam ser compactos. Onde há bastante terra, como em praticamente todas as cidades como Brasil, a engenharia é muito simples, pode-se usar áreas alagadas, como a construção de uma “piscina”, a um custo muito baixo para o tratamento da água e do esgoto.

À medida que os sistemas ficam menores, mais compactos, por falta de áreas disponíveis, onde a terra é cara, é preciso uma outra técnica, mas nunca mais cara que as tradicionais, assinala. “Não há custo de produtos químicos, a geração de lodo é muito pequena, o que torna a manutenção muito simples, e ainda tem uma beleza, são sistemas muito bonitos (por causas das plantas)”, explica. “Se a terra custar menos de um milhão de dólares o hectare (isso mesmo, um milhão de dólares) o sistema natural sempre vai ser mais barato”, garantiu.

E pode funcionar no meio de uma cidade, de um bairro, pois não exala mau cheiro algum, já que as bactérias são aeróbicas – usam oxigênio para se multiplicar. Na fábrica de Mogi Mirim, por exemplo, o sistema natural funciona há nove anos com um grau de eficiência de 99,98% na taxa de retirada de poluentes. Num hospital de Anantapur, na Índia, que faz tratamento de portadores de HIV, usando brita e plantas escolhidas para o ambiente local, a água sai totalmente limpa e sem a presença do vírus, tanto que é usada na irrigação de plantações.

Despoluição de Rios na China

Na China, em Fizhon, uma cidade industrial, um rio está sendo despoluído e outro será despoluído no país em breve com os mesmos princípios sustentáveis de engenharia e design. Nos vários canais onde mais de um milhão de habitantes despejam seus dejetos, foram instaladas umas espécies de ilhas flutuantes, com as plantas grudadas a filmes submersos e em cujas raízes se multiplicam as bactérias, que fazem a limpeza da água.

Elas são aeróbicas (utilizam oxigênio, por isso não exalam cheiro) e recebem o oxigênio através de aeradores embaixo dágua, que assim não fazem barulho e bombeiam o ar da superfície. Como são flutuantes, as “ilhas” sobem ou descem conforme o volume do canal. O custo, no caso, é de 50 mil dólares, R$ 75,00 a R$ 80,00 por pessoa e cerca de um Kilowat/hora de consumo de energia. "Há canais muito semelhantes no RJ, SP e Porto Alegre que poderiam receber sistemas semelhantes," assinalou.

À pergunta de um representante do Sindicato da Indústria da Construção Civl (Sinduscon), ele acrescentou que é possível um tratamento descentralizado de esgotos em prédios e condomínios de 200 a 300 pessoas, de até 20 andares, em sistemas pequenos de 600 metros quadrados, que poderiam ser integrados como parte dos próprios prédios, cuja água resultante poderia ser usada nas descargas, jardins, lavagem de carros e outras utilidades, menos higiene pessoal e cozinha. “É muito fácil reciclar para as descargas”, informou.

Outro exemplo bastante detalhado por Shaw é o de Harlow North, uma cidade totalmente planejada e totalmente sustentável, que será construída nos próximos anos com financiamento da British Petroleum, inicialmente para 25 mil habitantes e projeção para chegar a 65 mil. Ali deverá acontecer a integração total dos sistemas sustentáveis, energia, água, esgotos, produção de alimentos, manejo de resíduos, que é o novo desafio dos desenhos de sustentabilidade, conforme repetiu nas entrevistas que concedeu. Como a disponibilidade de água no local é de 50 litros/dia por pessoa – a média normal seria 200 litros – até mesmo as estradas serão construiídas de forma a reaproveitar a água da chuva. “É um grande desafio levando em conta o tamanho da cidade, visando o uso mínimo de energia, água, dos recursos para tratar os dejetos e assim por diante. Nas tecnologias não há nada de novo, o nosso desafio é colocar tudo junto”, explicou.

Michael Shaw foi trazido a Porto Alegre pelo diretor do Centro de Referência em Integração e Sustentabilidade (CRIS), engenheiro Jorge Geras, a convite da Secretaria Municipal do Meio Ambiente (Smam), para ser o palestrante de abertura oficial da Semana do Meio Ambiente, no auditório do Colégio Militar. O prefeito José Fogaça discursou exaltando a importância do evento e do convidado e depois se retirou para outro compromisso. Michael e Geras tinham reunião agendada com a equipe técnica do Departametno Municipal de Água e Esgotos (Dmae) no início da tarde, que foi cancelada sem maiores explicações.

Por Ulisses A. Nenê, para a Ecoagência

Fonte: Envolverde/Ecoagência

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